A Alegria da Ação de Graças

A Alegria da Ação de Graças

“Alegrem-se sempre. Orem continuamente. Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” [1]

Vivemos num mundo de coisas concretas, com abundância de informações, com um crescimento rápido, ritmo acelerado, muitos direitos associados a tantos sonhos e desejos. Cada vez mais centrados em si mesmos, andamos pela rua e cruzamos com pessoas com semblante pesado, olhar perdido, sorriso vazio... Muitas são as expectativas e várias as tentativas para encontrar a felicidade a fim de conquistar a tão desejada alegria de viver.

Alegria é uma emoção que faz parte da estrutura psíquica do ser humano, sendo traduzida em satisfação pelas conquistas alcançadas e necessidades realizadas.

Ao falar da Alegria da Ação de graças, pressupõe-se que a Ação de Graças promove alegria. Por outro lado, o facto de estarmos alegres nos impulsiona a exteriorizar ações de graças. Se a alegria é uma emoção, a ação de graças seria uma atitude pois se refere a ações práticas dirigidas à fonte responsável pela alegria sentida.

Há correntes que defendem que a alegria é uma manifestação involuntária sobre a qual não temos controle. No mundo, o ensino que tem sido transmitido é uma alegria associada a coisas adquiridas e atitude de gratidão condicionada, como consequência de algo que se recebeu. Entretanto, na passagem referida acima, alegrar-se aparece como uma recomendação, um mandamento acompanhado de oração e ação de graças.

Entende-se Ação de graças como um mandamento necessário para orientar em relação à atitude recomendada por Deus a todo o ser humano. Sabendo tratar-se de uma necessidade intrínseca do ser humano, a Bíblia ensina-a ativamente desde o Antigo ao Novo Testamento. Ação envolve decisão, atitude e expressão prática do sentimento de gratidão interna pelo benefício alcançado. Na verdade, acaba sendo uma atitude de celebração que irá influenciar diretamente os nossos sentimentos daí em diante e a forma como enfrentamos os desafios que nos são propostos no dia-a-dia, ao longo da vida em todos os domínios que a compõem.

Há três aspetos que se podem realçar como sendo o reflexo da alegria que a ação de graças produz. Um primeiro aspeto a referir é que a alegria da ação de graças estimula a Esperança e a Fé. A constatação de uma conquista traz alegria e esta alegria leva a pessoa a esperar mais e a projetar para além do que vê. Portanto, alimenta a fé. Outro aspeto a referir em relação à atitude da Ação de Graças é que reforça a Confiança em Deus e restaura a Força daquele que crê. Cada conquista registada ajuda a ver a grandeza do poder de Deus e o alcance do exercício da fé, ajudando a depender mais de Deus na certeza de que Ele  “ é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera,”.[2] O terceiro aspeto a realçar é que a alegria da ação de graças impulsiona a Ousadia e a Determinação daquele que a experimenta. A alegria produzida pela gratidão que brota do coração aquecido pelas bênçãos e realizações, torna-se como que um combustível que alimenta a Ousadia da pessoa e a faz avançar mais e com Determinação de alcançar o que está mais além.

Ao refletirmos sobre os três aspetos acima referidos, mais uma vez pode-se dizer que a alegria a que se refere a Palavra de Deus é muito mais do que apenas um estado de euforia. Antes, refere-se ao gozo que é entendido como satisfação, expressão de prazer e deleite, recomendado na Palavra de Deus como um mandamento. É curioso o facto de, em Gálatas 5:22, quando Paulo ensina acerca do Fruto do Espírito, o gozo é indicado logo a seguir ao amor. O Fruto do Espírito a ser desenvolvido na vida de cada um refere-se aos traços de carácter necessários para a prática da vida santa. A alegria, que se traduz em gozo, é de tal forma relevante que é aqui referenciada como um requisito fundamental para o desenvolvimento do carácter cristão. É necessário, portanto, que cada um busque desenvolvê-la através do Espírito Santo que a dá. A partir do momento que a alegria se instala em nossa vida, torna-se parte do ser e muda nossa perspetiva de encarar as coisas. Quando se vive a alegria da ação de graças, há um olhar positivo sobre os desafios e a pessoa torna-se capaz de fazer uma leitura otimista dos factos. Outra mudança operada é que através desta alegria passa-se a valorizar  cada detalhe, observando cada conquista independentemente de se tratar de algo grande ou considerado insignificante. Tudo é importante. Por fim, esta alegria passa a ser uma declaração de vitória pois reflete a atitude de fé e confiança em Deus que move a pessoa a continuar a caminhada.

Após esta discussão em torno da atitude de gratidão, uma questão se levanta: é a alegria que dá origem à ação de graças ou a ação de graças que desenvolve a alegria? Se tomarmos o versículo 3 do Salmo 126 que diz “Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres”, entenderemos que a ação de graças é o reflexo da alegria por algo que se recebe, é uma consequência. Entretanto, quando se lê Filipenses 4:6, “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus”, o verso sugere que a ação de graças deve acontecer independentemente de já se ter experimentado a alegria ou não. A despeito de qual delas anteceder a outra, o facto é que alegria e ação de graças parecem andar sempre juntas, tornando-se complementares, sendo que ambas são necessárias para viver de forma saudável e equilibrada o que Deus deseja de cada um dos seus. O livro de Provérbios ressalta que  “O coração alegre aformoseia o rosto”[3]. Encontramos o mandamento reforçado em Filipenses 4:4, “Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!” Gratidão traduz-se por ações motivadas pela alegria vivida. Esta alegria, ultrapassa o domínio da simples emoção que reflete a satisfação do ser humano, assumindo-se como um traço de carácter e um estilo de vida. Tudo porque esta alegria que vem da ação de graças tem uma fonte específica que se torna o próprio objeto. Jesus é a fonte da alegria e o objeto das nossas ações de graças “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.”[4]

Leniza Monteiro Soares es la superintendente de distrito del Distrito de Cabo Verde.

 


[1] 1 Tessalonicenses 5:16-18 NVI

[2] Efésios 3:20

[3] Provérbios 15:13

[4] Romanos 11:36

 

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