Mansidão
Eu tenho uma amiga conselheira que suas palavras favoritas para mim são: “Seja mansa com você mesma”. Às vezes, suas palavras de encorajamento me frustram, porque eu sou tão desesperada por mudanças que eu regulamente tento me chicotear para ficar na linha. Entretanto, eu tenho experimentado que é mais provável que eu experimente progresso quando eu escuto seus conselhos. Parece existir um poder estranho e enigmático que afeta mudanças quando a mansidão está presente.
Eu tenho aprendido que Deus é manso quando lida com a fraqueza humana. Em Isaías 40:10-11, vemos Deus chegando com poder para trazer mudanças a Israel. Entretanto, a forma como ele faz isso parece contrária. “Como pastor, ele alimentará seu rebanho; levará os cordeirinhos nos braços e os carregará junto ao coração; conduzirá ternamente as ovelhas com suas crias”. Essa linda imagem de Deus ternamente e gentilmente cuidando de seu povo é encontrada num capítulo carregado de referências ao poder e a força de Deus. Mesmo assim, ele escolhe cuidar de seu povo com mansidão. A Bíblia nos diz que a abordagem de Deus é motivada por sua compaixão para com Israel. A mansidão de Deus em direção ao seu povo é uma expressão de seu amor e graciosidade.
No Novo Testamento, Jesus exibe a mesma abordagem do Pai. Em Mateus 11:28-29, Jesus disse: “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma”. A mansidão de Jesus revela sua compaixão em relação a nós. Ele é profundamente movido pelo nosso sofrimento e escolhe usar a sua força em nosso favor. Quando Jesus curava e perdoava pecados, e quando ele ressuscitava pessoas dentre os mortos, ele usava o seu poder e força em favor das pessoas que ele amava.
Essa mansidão não é fraqueza; ela resiste a injustiça e a opressão. Jesus lutou calmamente e sem hesitação em favor da mulher pega em adultério (João 8:1-11). Ele libertou o homem endemoniado (Mateus 5:1-20). Ele permitiu que a mulher com a questão do sangue se apropriasse de seu poder para a sua cura (Lucas 8:43-48). Jesus não exerceu seu poder para se exaltar, mas para elevar os humildes.
O exemplo supremo de mansidão transformadora é a disposição de Jesus quando ele enfrentou e suportou a cruz. “Ele foi oprimido e humilhado, mas não disse uma só palavra. Foi levado como cordeiro para o matadouro; como ovelha muda diante dos tosquiadores, não abriu a boca” (Isaías 53:7). Jesus deve ter parecido muito patético ao sofrer em silêncio e até por ter perdoado aqueles que lhe torturaram. Entretanto, essa humilhação de Cristo foi o evento mais poderoso na história da criação. Com ela, destruição do Éden foi revertida e os humanos foram reconciliados com Deus.
Mansidão é um fruto do Espírito nas vidas dos cristãos (Gálatas 5:23). Isso faz sentido quando consideramos mansidão como uma característica do Deus trino. O apóstolo Paulo nos diz que o amor e a compaixão do Pai e do Filho são derramados em nossos porações pelo poder do Espírito Santo. O amor nos capacita a tratar os outros com mansidão, ternura e humildade. Ele nos habilita a tardar o julgamento e nos preenche com empatia e mansidão.
A transformação pessoal se torna uma possibilidade real quando escolhemos viver na disposição da mansidão. O nosso testemunho poderia ser muito mais eficaz se trocássemos auto-afirmação por mansidão. Uma resposta mansa pode desfazer uma situação volátil (Provébios 15:1), levar os opositores ao arrependimento (2 Timóteo 2:25), e até aumentar a nossa persuasão (Provérbios 16:21). Essa estratégia para afetar a mudança é muito diferente da cultura que nos cerca, onde a auto-afirmação, auto-confiança e o domínio são valorizados. Mansidão é contracultural; é um produto de um reino de ponta cabeça onde a raiva não tem que levar ao pecado, as pessoas viram a outra face e os inimigos são amados.
Verdadeira mansidão é resultado de permanecer em Cristo. Confiança absoluta na bondade e na fidelidade de Deus nos liberta de uma necessidade de nos agarrarmos ao que precisamos às custas dos outros. Em Fp 4:5, lemos: “A vossa mansidão seja conhecida de todos os homens. O Senhor está perto”. (SBB - Sociedade Bíblica Britânica) A certeza da proximidade de Cristo nos permite sermos mansos com todos, sem excluir ninguém.
Você consegue imaginar o maior benefício de ouvir o conselho de minha amiga conselheira? Ser mansa comigo mesma tem me ajudado a ser mansa com os outros. O poder estranho e enigmático da mansidão é o que gera mansidão. Em espírito de mansidão, os mansos herdarão a terra.
Samantha Chambo.