Sua Justiça, o meu louvor!
O salmo começa com um pedido de socorro que é, também, uma declaração de confiança naquele que é a justiça personificada. A justiça de Deus retrata a dimensão do Seu amor e aqui o salmista expõe, através de uma oração, as suas expectativas em relação a ela, a sua consciência quanto à realidade dos que o rodeiam e expressa a sua confiança em Deus. Muitas vezes, ao longo da nossa jornada, enfrentamos momentos em que nos sentimos injuriados, encurralados e na consciência do perigo real a nossa reação é de desespero, angústia e, até, culpa. Tomado de todos estes sentimentos que vão assumindo proporções diversas dependendo dos momentos em que vivemos, eis que o salmista exclama em tom de desabafo ao ponto de termos a sensação de sentir o seu respirar sobre nós: “Senhor, meu Deus, em ti me refugio” (v.1).
Nos primeiros versículos ele apresenta o Senhor como o lugar seguro, de protecção e refúgio. De seguida, ele reporta a realidade da justiça humana, onde demonstra a consciência de falibilidade mas também a disponibilidade em assumir as consequências. A justiça humana (v. 3-5) é limitada, tendenciosa e o seu objectivo maior é a punição do erro. Neste processo, pode-se desenvolver a culpa verdadeira e a culpa falsa que às vezes são uma teia perigosa. Isto porque ela avalia com base em factos e factores externos e observáveis, usa de suposições, julgamentos e interpretações, produzindo juízos de valor. Perante este cenário, brota um sentimento de injustiça e dor que dá a sensação de perseguição. É neste momento que precisamos de recuperar a lembrança de quem Deus é, que Ele é o nosso refúgio, o lugar seguro que se assenta na justiça divina.
A justiça divina é observada nos versículos seguintes (v. 6-16) onde é retratada a pessoa de Deus, o Seu poder e intervenção em tempo oportuno e sobre todos com equidade. A Sua justiça não é limitada e ultrapassa o que é observável apenas pelos sentidos humanas; ela esquadrinha o interior do ser, percorrendo a natureza desde o consciente ao inconsciente para discernir o interior do coração. O objectivo da justiça divina é a correcção e retrata a dimensão eterna do amor de Deus que sempre quer recuperar o indivíduo levando-o à perfeição em Deus.
Ler este salmo reporta-me a um determinado momento em que experimentei uma sensação de injustiça, a angústia tomou conta de mim ao ponto de questionar qual tinha sido a minha falha, o porquê de me sentir encurralada e machucada mesmo tendo a convicção de tudo ter feito, de forma adequada, mesmo àqueles que nem sempre fizeram o mesmo por mim. Clamei ao Senhor e a certeza da Sua justiça fez brotar em mim um som de alegria e louvor Àquele que ultrapassa a limitação humana e justifica com amor. Assim, o salmista, parecendo fazer uma mudança brusca de humor, experimenta a calma e termina em louvor: “Eu porém, louvarei o Senhor, segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do Senhor Altíssimo (v.17)”.
Leniza Monteiro Soares es la superintendente de distrito del Distrito de Cabo Verde.