Paz

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Eu tenho uma moldura com as palavras “vai tudo bem com a minha alma” na minha casa e no meu escritório. Eu olho para essas palavras todos os dias como uma fonte de paz—até que um dia elas não foram. Algo não estava bem com a minha alma.

Paz é um fruto do Espírito que todos querem, mas poucos estão dispostos a cultivar. Frutos podem crescer em árvores, mas a paz não. Paz é um dom Espírito, não outra tarefa que colocamos em nossa lista de afazeres, como manter os armários organizados ou comer menos açúcar refinado. Mas, como todos os dons, precisamos de mãos e vidas que estão abertas para receber paz.

Paz é o dom carregado pelos 72 discípulos nos lares e vilarejos que lemos em Lucas 10. Ele os instrui a ir de porta-a-porta e dizer: “Paz seja com essa casa”. Alguns receberão o dom da paz; outros não. Quando o dom da paz não é recebido, os discípulos deveriam sacudir o pó de seus pés e seguirem andando.

Antes dos discípulos baterem em uma única porta, eles estavam praticando paz. Jesus lhes diz para não levarem bolsa, sacola nem sandálias e para não cumprimentarem ninguém na estrada. Em outras palavras, eles foram enviados sem posses, sem símbolos de status, sem confortos de criaturas e ninguém para impressionar. Eles estavam ativamente se desapegando de qualquer coisa que pudesse distrair do carregar da paz.

Adele Ahlberg Calhoun define o exercício espiritual do desapego como “uma maneira de substituir o apego a (1) relacionamentos idólatras e (2) alvos para serviço pessoal e agendas para sucesso, dinheiro, poder, ego, produtividade e imagem, por um apego de coração inteiro e confiança somente em Deus”.[1] Jesus convida os discípulos a praticarem o desapego para serem portadores de paz.

Vemos esse relacionamento entre paz e desapego na vida do apóstolo Paulo que ousou dizer aos filipenses para “não ficarem ansiosos sobre coisa alguma”, ao invés disso, eles deveriam deixar que a paz de Deus “guardasse seus corações e mentes em Cristo Jesus”.[2] Isso parece uma tarefa impossível, porque quê pessoa de coração frio realmente não se preocuparia com nada? Ao mesmo tempo, na jornada que Jesus enviou Paulo, Paulo aprendeu a contar tudo o que havia ganho na vida como perda comparada ao “ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor”.[3] Isso soa como um desapego santo, não uma indiferença fria. Segurar todas essas coisas que uma vez foram tão importantes à nova luz comparada em conhecer a Cristo revela um coração que é mais apegado a Jesus do que a posses, status, conforto ou opinião de outros.

Praticar esse desapego certamente preparou os 72 discípulos para um tanto de rejeição. De que outra forma eles meremente sacudiriam a poeira de seus pés e continuariam oferecendo paz quando a porta fosse fechada na cara deles? Somente um coração inteiramente apegado a Jesus pode sacudir a poeira e continuar andando.

Quando eu sou rejeitada, eu não quero sacudir a poeira. Eu quero examinar a poeira, despejar a poeira, organizar um comitê para analisar a poeira. Eu rolo na poeira, chutando e gemendo, quando eu fico mais apegada as opiniões dos outros sobre mim do que apegada a Jesus.

Receber o dom da paz não requer que a vida flua suavemente, que nunca seremos rejeitados ou que nunca enfrentaremos dificuldades. Isso simplesmente requer um desapego santo a tudo, exceto a Jesus, para que possamos sacudir a poeira quando as coisas não acontecerem do nosso jeito e continuar seguindo-o.

Infelizmente, eu só comecei a prática espiritual de desapego depois que eu notei que não estava mais indo tudo bem com a minha alma. Eu fiz uma lista dos meus apegos, uma lista brutalmente honesta.

Eu tive que olhar para as palavras das coisas que me importavam mais do que seguir Jesus, escritas da minha própria mão, olhando para mim da página. Foi devastador. Eram as coisas que me roubavam a paz—não era a igreja, nem a política, nem a pandemia—essas coisas que eu escolhi ficar agarrada mesmo sendo simplesmente poeira.

As coisas que eu escrevi naquela lista não eram coisas ruins! Eram coisas e pessoas que eu me importava muito, na maior parte das vezes por boas razões e algumas por razões complicadas. Eu não conseguia simplesmente olhar para a lista e dizer: “Shawna, pare de se preocupar tanto com essas coisas!” Isso não funcionaria mesmo. Então, ao invés disso, eu trouxe a lista em oração todo dia e convidei o Espírito Santo para se preocupar com essas coisas para mim, para segurá-las e se colocar entre essa lista e eu, para preencher o espaço entre a minha alma e essas apegos para que eu pudesse soltar minha mão e segurar Jesus. 

O nosso mundo está, simultaneamente, desesperado por paz e ativamente rejeitando-a. Mas eu estou encontrando um bem-estar mais profundo através do qual eu posso continuar oferecendo paz de pequenas formas todo dia. Eu ainda luto com os apegos que me roubam e roubam dos outros a paz. Mas eu continuo convidando o Espírito Santo para caminhar comigo onde Jesus me enviar. Quer eu seja convidado a sentar à mesa ou encontrar uma porta sendo fechada na minha cara, a minha alma vai estar bem.

Shawna Songer-Gaines.

 

[1] Adele Ahlberg Calhoun, Spiritual Disciplines Handbook: Practices That Transform Us (Illinois: InterVarsity Press, 2015).

[2] Filipenses 4:6-7, NRSV

[3] Filipenses 3:7-8

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