Cruzando Fronteiras em Tempos de Pandemia
Em circunstâncias normais, as viagens constantes já afetam o corpo e a mente de uma pessoa. Não existe uma rotina diária normal, pois as pessoas se acostumam com alimentos diferentes, camas diferentes e até fusos horários diferentes.
Entretanto, a pandemia do COVID-19 fez com que os desafios de viagens chegassem a níveis extremos. Além da probabilidade do risco de ser infectado internacionalmente, com a subsequente quarentena e restrições de saúde, a pandemia trouxe um nível de incerteza em relação aos protocolos, exigências de entrada e saída, e a disponibilidade de voos, que já não são confiáveis em muitos casos.
Com tudo isso em mente, Rachel e eu deixamos Kansas City e fomos para a Guatemala em dezembro de 2021 para o nosso primeiro tour de assembleia desde março de 2020. Os sinais dos novos tempos ficaram evidentes quando nosso primeiro voo foi cancelado devido ao aumento nos casos de COVID que colocou muitas tripulações em licença médica. Depois de ser redirecionado para vários aeroportos, chegamos à Cidade da Guatemala à meia-noite do mesmo dia, depois de mais de 15 horas de viagem.
Um pouco depois, descobrimos que nossos vistos para entrar na Nicarágua estavam atrasados. Decidimos reaplicar, mas desta vez, tentando entrar por terra através da fronteira sul do país.
Depois de um pouco de atraso, recebemos os vistos para viajar para a Nicarágua com a nova petição. As realidades de um cruzamento de fronteira por terra podem ser inseguras, incertas e desafiadoras. Em ministérios anteriores com refugiados e imigrantes, eu vi de primeira mão os níveis de abuso e risco pessoal nos quais as pessoas se colocavam para cruzarem fronteiras para entrar num novo país. Então, achamos que seria prudente a Rachel ficar com a família na Guatemala enquanto eu tentaria entrar na Nicarágua por terra.
Depois de uma boa assembleia na Costa Rica, um país para onde eu havia viajado de avião, a equipe regional e eu partimos para San Jose de carro depois de pegar os resultados de nosso teste PCR de COVID exigido pelo governo da Nicarágua para entrar no país. Esse era o terceiro teste de PCR que eu fazia em menos de duas semanas e o segundo em três dias. Fazer pelo menos três testes de COVID-19 por semana estava se tornando parte de uma nova norma quando eu viajava entre países!
A viagem de carro de San Jose até a fronteira sul da Nicarágua foi tranquila e sem incidentes. Chegamos na fronteira às 2 horas da tarde e esperávamos uma parada rápida já que tínhamos os vistos e os documentos de entrada no banco de dados do governo. Infelizmente, ficamos detidos na fronteira por aproximadamente cinco horas enquanto os agentes da fronteira questionavam nossos vistos, o propósito da nossa visita à Nicarágua, e até a integridade de nossas declarações de entrada.
Depois de muitas ligações telefônicas para os escritórios centrais do governo, e depois de várias conversas com o superintendente distrital (que também é advogado e representante legal da denominação na Nicarágua), tivemos a permissão de cruzar a fronteira às 7 horas da noite. A estrada já estava escura. Oramos com gratidão por termos recebido a autorização para entrar no país e fizemos uma oração de súplica por proteção, já que ainda tínhamos mais de três horas para dirigir numa estrada isolada e perigosa.
Finalmente chegamos em Managua às 10 horas da noite e demos entrada no nosso hotel. O dia seguinte seria bem ocupado e cheio de empolgação.
Eu comecei o dia cedo, porque, para poder sair do país, eu precisaria ter um teste de PCR administrado pelo governo com um resultado negativo. Estávamos com um pouco de medo, porque havia ocorrido o caso de turistas que tinham ficado retidos no país devido a resultados “falso positivos”. Depois de um compromisso de manhã cedo em uma instalação improvisada de testes, fui levado ao hotel para pegar o resto da delegação e dirigir até o local da assembléia - um lugar que o distrito havia alugado para acomodar os quase 700 delegados que esperavam ansiosamente ter uma assembléia em celebração.
Estar com a família da Nicarágua fez com que cada desafio que enfrentamos antes de chegar lá muito válido. Aqueles nazarenos adoraram o Senhor com paixão e entrega. A assembleia distrital foi uma celebração da presença de Deus no meio de seus desafios e limitações.
Eu preguei um devocional de abertura com o sermão “Eu não esquecerei de Ti” (Isaías 49:13), e nós tivemos um tempo estendido de oração e gratidão com dúzias de delegados derramando seus corações ao Senhor no altar.
Depois da assembleia no Distrito Central da Nicarágua, procedemos para a ordenação de presbíteros e diáconos do país inteiro recebidos no Distrito Central. Eu preguei o sermão “Santidade e Obediência” (Gênesis 22), e a resposta foi ainda mais forte do que mais cedo no dia. Mesmo tendo ido lá para uma assembleia e um culto de ordenação, o Senhor estava preparando aquele dia para outro Pentecoste com a família nazarena na Nicarágua.
Eu tive o privilégio de ordenar treze novos presbíteros de quatro distritos da nação. Foi um agrupamento maravilhoso e unificado dos nazarenos na Nicarágua, e eles estavam felizes em celebrarem juntos no meio da pandemia. Foi a primeira vez em quatro anos que eles estavam tendo a visita de um superintendente geral na Nicarágua. Felizmente, eu tinha sido o último superintendente a visitar a Nicarágua em março de 2018, e foi uma bênção novamente estar de volta com a família.
Nós terminamos a assembleia e o culto de ordenação e depois tínhamos que esperar pelo resultado do teste de COVID para continuar a viagem. Graças a Deus, ele deu negativo, o que me permitiu continuar a minha viagem de volta para a Guatemala e me preparar para a próxima parada.
Viajar pode não ser mais a mesma coisa, mas a promessa da presença de Deus entre nós é!
Gustavo Crocker é superintendente geral da Igreja do Nazareno.